O bairro era escuro. Aliás, quando se raciocinava bem, toda a rua estava imersa num manto de escuridão. Pelos vistos a EDP ali tinha tirado férias. Mas era por ali que tinha que ir. Era ali que estava o seu objectivo. A caixa multibanco! Tudo para levantar uns míseros 10 euros.
Depois de olhar cuidadosamente para a esquerda e para a direita, a ver se ninguém por ali deitava o olho ao pequeno, mas de certa forma valioso cartão que ia introduzir na máquina, executou a operação. Código, 20 euros em vez de dez, proque afinal era fim de semana, e depois exigências do papel do recibo, para poder desmaiar assim que visse o saldo.
Tudo tinha corrido bem. Sem barulho, sem atrair ninguém. A rua continuava exactamente como havia estado alguns minutos atrás. Até que subitamente, e alto e bom som ouviu a máquina dizer: TIRE O DINHEIRO!
Morreu de susto e não voltou a recorrer a estas invenções do futuro...
Ok, isso é mentira.... mas só porque dão muito jeito....
Passemos à explicação: Ok, se a SIBS, responsável pelas maquinetas não percebeu, esta gritaria desenfreada da máquina, especialmente à noite, é pior do que pôr um anúncio luminoso por cima das pessoas a dizer Assaltem-me!
Não só porque o som nas caixas está demasiado alto, como é totalmente desnecessário...Afinal, quem é que se vai esquecer da porcaria do dinheiro, que tanto lhe custou a ganhar? Ninguém...só um demente?! E embora por Portugal hajam não sei quantos por ai à solta e até a concorrer a Câmaras Municipais, Presidências da Republica e etc, não penso que nesta matéria- falamos claro, da caixa multibanco gritadora- seja preciso por um bicho destes a gritar para os curar. Há outros métodos....
Agora se daqui a uns meses os assaltos à volta das CMs aumentarem-.... não se admirem! Ou esperavam o quê coma quele sinal luminoso e sonoro? Espantar os ladrões ou chamá-los! Tenham dó!
São sete da tarde. O local de trabalho está a alguns quilómetros de distância. Está sol e a brisa alivia o calor que ainda se faz sentir, como se o Agosto ainda agora tivesse começado. O passaros piam, as crianças saltam...e todas aquelas imagens cliché dos filmes americanos passam por nós, mas de uma forma saborosa e que aliviam o imaginário...
E nisto a realidade regressa. Brutal, sem aviso e de rompante. E é ai que chegam os chatos. Não os bichos, que parece que foram uma praga entre muita gente que andou a saltar de cama em cama este verão, mas aqueles que nos buzinam quando precisamos de paz, via telefone.
"Olá estás bom", vem sem vontade.
Do outro lado, antes que as primeiras palavras acabem de serem proferidas vem uma enchurrada de palavras que se atropelam umas às outras a uma velocidade tremenda. Não há tempo para grandes respostas, apenas para uns "pois", uns "hum hum", e pouco mais.
E quarenta minutos depois, de dura, cruel e chata realidade, o sol já se foi, as criancinhas já desapareceram e a brisa já está fria... é então que a voz se cala. Finalmente.
Foi assim uma vez... depois outra...e outra...e outra...e outra...e outra.
O pior é que contra este tipo de pragas não existe insecticida que resulte, porque é humana! Alguém sabe a receita perfeita para isto?