- Está aqui para ser uma das vítimas?
Foi assim que começou a minha tarde de hoje. Pode parecer bizarra, mas esta foi a pergunta de inauguração da tarde.
Mas comecemos então a explicar o que se passou. Tal como mandam as regras do jornalismo cor de rosa, de vez em quando, uma ou duas vezes por semana, fazem-se entrevistas com figuras públicas, actores ou actrizes da moda, com novo namorado, agora solteiras, ou perdidas na vida...E foi essa a tarefa, que me levou até ao Hotel Vila Galé Ópera, em Alcântara. Entrevistar duas actrizes de teatro e televisão! E foi lá que me foi feita aquela bizarra pergunta.
Cheguei mais cedo do que estava marcado. Vinte minutos antes. Queria pôr a cabeça em ordem, deixar os pensamentos fluirem antes de partir para o ataque, ou seja para a dita entrevista. Aguardava no lobby do hotel. Antes, minutinhos antes mesmo, havia dirigido-me a um dos consirges, para lhe perguntar se já alguém da equipa havia chegado. Sim porque fazer uam entrevista inclui uma autêntica parafernália de gente: produtor, maquiadora, fotógrafo... Como resposta levei um rotundo não! Por isso encontrava-me a descansar , e tal como disse, à algumas linhas atrás, a pôr os pensamentos em dia e no local certo...
...quando subitamente tudo começou. Inicialmente, confesso, que nem reparei. Julguei que os homens que haviam entrado eram meros seguranças do hotel, que estavam ali por uma razão qualquer com a qual nada tinha a ver. Mas a azáfama que se estava a sentir fez-me tomar mais atenção ao que se passava. Foi então que reparei que, na mão, os bombeiros- percebi-o pela insígnia que traziam- em vez de mangueiras e machados, ferramentas habituais de trabalho, traziam câmaras de filmar portáteis.E filmavam tudo: o lobby, a entrada, os corredores, o bar, eu sei lá... andavam de um lado para o outro muito atarefados. Falavam também com, os agora, vários empregados do hotel que tinham aparecido, que bem dispostos lá diziam umas graçolas, que eu ao longe não percebia. Como estava mergulahdo naquele pequeno borburinho não me apercebi que um dos porteiros se havia aproximado de mim. Foi ele que fez a pergunta...
- Está aqui para ser uma das vítimas?
Vitima??? Do quê?
- Vítima?, perguntei.
- Sim, do simulacro de incêndio, explicou ele sem perceber que raio estava eu ali a fazer, sentado há mais de dez minutos, no hall do hotel!
Foi então que comecei a explicar. Estava ali para fazer uam entrevista, blá, blá blá...aquilo que leram em cima.
O que me foi dito a seguir deixou-me de boca aberta.
Tudo bem. Não havia problema com a entrevista. Só tínhamos era que participar. No quê, perguntam vocês? No simulacro. É que caso contrário não havia nada para ninguém. Foi-me então dito que o hotel iria simular um pequeno incêndio para medir a efectividade da segurança deste mesmo´e que a única coisa que tinhamos que fazer era, quando soasse o alarme, dirirgirmo-nos para o exterior. Não demoraria mais de 15 minutos. Expliquei que não podia participar, que iria ter convidados, etc e tal... em vão. Ou sim ou sopas! Mais, um dos convidados até havia chegado há mais de trinta minutos, já estava no quarto... , mas ninguém lhe havia dito nada.
Pachorrentamente lá fui eu ao quarto explicar ao convidado o que se iria passar. Felizmente aceitou as coisas sem problemas. O mesmo tive que fazer à produção, quando alguns minutos depois, chegaram e me perguntaram o que raio se passava no hotel. Tive que explicar tudo outra vez.
Mas como pensámos que iamos ter tempo para mais qualquer coisa, toca a desmontar o estaminé.
Claro que assim que tinhamos tudo preparado, começou a tocar o alarme. Digo-vos que não é só ensurdecedor como extremamente enervante. Em tom de gozo lá fomos nós escadas abaixo...sim, porque o elevador nestas alturas não deve ser utilizado! Meio a brincar, fomos lá para fora...mas sem armas nem bagagem. Que ardessem a fingir...
Ficámos a ver o espectáculo...
Os 15 minutos transformaram-se em 50.
Os bombeiros e a ambulância demoraram eternidades a aparecer. E quando o fizeram, os rapazinhos que apagam o fogo, por saberem tratar-se de uma simulação fizeram tudo bem devagarinho. Eu sei que a pressa é inimiga da perfeição, mas se fosse um incêndio de verdade, digo-vos já que tinha ficado muita gente chamuscadinha. E os prédios do lado não se safavam. Lentos paradinhos...
Lá salvaram os feridos que estavam numa janela, lá fizeram erguer uam escada e engordar uma mangueira.
Não sei se o resultado foi bom ou mau, mas para quem esperou foi uma seca que nem vos digo. Especialmente porque estava um frio de rachar pedrinha da calçada!
Enfim. No fim não me posso queixar de não ter tardes animadas!
Acabo de reparar que o ano passado escrevi extactamente sobre o mesmo tema... A diferença é que já estávamos a meio de Dezembro. Pelos vistos a loucura este ano começou bem mais cedo!
Dezembro 13, 2004
A crise
É a palavra que mais se ouviu nos últimos meses: crise. Vivemos, respiramos, comemos crise. É isso que nos querem fazer crer. Que não há dinheiro, que estamos todos na penúria, que nunca se esteve tão mal em Portugal. Ok... politicamente denoto aqui uma certa razão. Nunca se viveu num deserto tão grande de ideias como este ano, desde que o senhor Santana subiu as escadarias de S.Bento e resolveu estragar a vida a todos quanto podia. Mas estaremos assim tão mal de finanças como nos tem feito crer? Acredito, é verdade, que nunca houve tantos desempregrados e tanta gente sem dinheiro como este ano... mas e então os outros? Aquela classe média, baixa e média e alta... Estarão assim tão mal como o telejornal da TVI nos faz crer? Passando pelas lojas do comércio tradicional, com excepção da Baixa- Rua Agusta, Garret e Carmo- é essa a visão que temos. Pouca gente, poucos sacos, menos dinheiro. Fala-se em problemas, em crise, e com razão. Mas basta entrarmos num centro comercial, num hipermercado e todo esse conceito negro desaparece. Sacos, saquinhos, sacoletas. Não há ninguém que não traga uma , duas ou três dúzias! Está tudo enlouquecido. Os supermercados transbordam pessoas. As lojas também. Parece que os portugueses esqueceram de todo a tão publicitada crise e decidiram passar os últimos 15 dias do ano como se este fosse acabar amanhã! E toca a comprar: telemóveis, brinquedos, roupas de marca, computadores, DVDs, CDS...eu sei lá mais o quê! E Dinheiro? Esse também não escasseia assim tanto nos bolsos de quem por Lisboa anda. Ou então os restaurantes não estariam inundados de jantares de Natal e de confraternização, de tal forma que é preciso reservar mesas em alguns sítios com uma semana de antecedência. Mas então que crise é esta que só afecta uns e não os outros? Ou deixámos de acreditar na publicidade e resolvemos todos ver com os nossos próprios olhos? Mas que crise é esta? De valores? De ideias? Ou então é só mesmo má publicidade!
Há pequenas coisas que me intrigam. Ligeiros nadas que me fazem confusão.
Falemos então da justiça...
Um caso, considerado não só mediático, mas verdadeiramente atrós chegou às páginas dos jornais em 2002. Pedofilia, falava-se então. Uma vergonha...uma humilhação! Figuras públicas, violações de rapazinhos numa instituição pública...uma verdadeira parafernália de eventos chocantes que puseram a sociedade portuguesa a falar. Para além de uma figura, com o ilustrativo nome Bibi, eram levadas até à cadeia o apresentador Carlos Cruz, o ex- consul e embaixador Jorge Ritto, o político Paulo Pedroso, um advogado, um médico... nomes e mais nomes. Subitamente as cadeias portuguesas estavam cheias de caras que nunca esperavam ver... pelo menos atrás de grades!
O caso avançou para tribunal... mas como tudo em Portugal, a passo, lento, mais lento que uma tartaruga Gigante das Galápos.
E assim passaram 3 anos e uns tantos meses.
Actualmente todos os acusados, depois de terem estado fechados em prisão preventiva durante algum tempo, que variou consoante o mediatismo da figura, e o poder dos seus advogados, estão todos á solta. Em tribunal está tudo na mesma. Nada está provado, mas as figuritas andam já todas por ai. Porque se é verdade que prisão preventiva não deve ultrapassar três meses- não custa asism tanto a fazer averiguações-...em Portugal isso pode ser mudado conforme as necessidades...
Por isso, o que questiono, é...para que serve então esta justiça? É que, depois disto tudo, só pode ser para alguam coisa estranha...porque resolver alguam coisa...não vejo! É que o caso está nas salas dos tribunais à meses e meses e meses... ora se adia uma sessão por isto, ora por aquilo... outras vezes falta sala, noutras o juíz...ou os advogados.
No fim de tudo, e como é tão tradicional neste pais vai ficar tudo em águas de bacalhau...
Por isso mesmo não compreendo este pais...
Para quê tanto alarmismo, polícias, investigadores e uma série de outras pessoas, se no fim de tudo, isto vai ser arquivado por ter passado tempo demais?
Realmente não percebo porque é que se gastam tantos ordenados...
Mais valia vivermos na republica das bananas...