Fila do metro. Duas da tarde. Comprar o passe. O número de pessoas vai diminuindo lentamente à medida que uma senhora, sem grande vontade de ali estar, por detrás do guiché, pois afinal estão trinta graus e um excelente dia de praia, vai atendendo os clientes calmamente. Á minha frente, com um ar excitadamente infantil, um senhor com cerca de 60 anos, vai abrindo e fechando a carteira. Até que de repente chega a vez dele. Com ar de quem ganhou a lotaria, diz no seu sotaque saloio
- Faz, favor, é um bilhete para o um de Maio....
Do outro lado do vidro uma cara de incredulidade
- Para a Rua primeiro de Maio?- pergunta a mulher
- Para as festas, onde se comemora o primeiro de Maio. Eu não sei onde é. Onde é?- diz o homenzito, ainda com os olhos a brilhar.
A senhora esboçou um sorriso, e tentando não rir pergunta-lhe
- Quer ir para a Alameda não é?
- Deve ser. Eu nunca venho a Lisboa. Só para a festa. Há bilhetes para esse sítio?
A senhora vende-lhe o bilhete do metro e o homem parte, feliz, olhando para todas as placas, para não errar.
Confesso que nunca tinha visto ninguém tão feliz com uma coisa tão simples. Mas ele lá sabe pelo que lutou para achar tão importante continuar, acesamente, a comemorar este dia.
E lá partiu ele