Começou com um telefonema.
Tinha acabado de ver o Jornal 24 horas. Falava de uma jovem assassinada na zona de Sacavém, o que me deixou perturbado.
Não com o acontecimento, mas pela forma como tinha acontecido.
Não é que eu seja betinho, nem veja Portugal como um paraíso, mas a verdade é que os crimes à mão armada, pareciam, até há bem pouco tempo, estar longe de ser um perigo iminente para qualquer português. Foi, por isso, com pesar que li a notícia. Mas confesso que a deixei ficar apenas ne memória residual... era apenas mais uma triste tragédia neste pais, cada vez mais transformado numa república sem bananas!
Foi então que o telefone tocou.
Relataram-me o facto que minutos antes tinha lido no jornal, mas desta vez acrescentando um facto: o nome da vítima.
Se no início me parecia desconhecido, aos poucos a minha mente, enferrujada e tudo, lá fez click.
Eu conhecia aquela pessoa. Eu sabia quem ela era.!
Se até àquele momento apenas o crime me tinha deixado estarrecido, agora era o facto de ser uma pessoa conhecida que me deixava desamparado, fragilizado.
Era como se abalassem os meus alicerces.
Eu conhecia-a.
Tinha falado com ela, partilhado os mesmos espaços, discutido os mesmos assuntos, rido das mesmas piadas.
Com ela partilhara a organização de um baile de finalistas, uma benção... vira-a todos os dias, ou quase todos, durante quatro anos.
É verdade que há muito haviamos perdido contacto, mas , como imagino, tantas pessoas com quem deixei de ter contacto, via-a a evoluir na sua vida.
A dar um passo em frente após o outro.
Estivemos para estar juntos recentemente num jantar, mas o destino assim não o quis. Ela tinha problemas para resolver nesse dia e por isso, e lembro-me, com muita pena, dizia, num e-mail enviado a todos os que iam estar presentes que na próxima não iria falhar.
Mas infelizmente vai falhar!
Ao ler a notícia, depois do telefionema, arrepiei-me. Senti-me desamparado. Frágil. Fiquei irritado por não a ter conhecido melhor, por nunca mais a ter visto, por ter perdido contacto, por não a poder ajudar. Irritei-me...
A vida é mesmo uma merda!